Debaixo da ponte correm pedras Natureza morta Que mata Pousio bravo Obstáculo de tropeço e arremesso Oceano irracional Pedestal sombrio Catedral do vazio Abismo Penedos pontiagudos Pedregulhos Areias e Seixos Calhaus Correm pedras debaixo da ponte
Fui perguntar às rochas O que sentem Quando o mar as abraça
Disseram-me Que sentem arrepios molhados Pois que o mar é irrequieto E lhes dá beijos salgados Que ora as veste de espuma branca Ora as despe enamorado
Sentem-se amadas por ele E outras vezes odiadas Quando ele as prende e as força Com os seus braços pesados Sem ter remorso nem dor Em abraços agitados A ceder ao seu amor
Talvez um caminho se escreva nas pétalas da manhã Talvez um caminho se abra nas asas do arvoredo Talvez um caminho siga nos trilhos do vento cantante Talvez as águas ciciantes se lembrem de me sussurrar o caminho
A aldeia aprisionada num esotérico submundo Globo ocular à espreita da cidade exotérica É verdade abafada de mentira Extemporâneo entulho esférico Frustrâneo dióspiro Incomestível Imperceptível forma de moléstia Praga sem modéstia que não parte Nem reparte