Desenho a carvão o negro da terra queimada. Nem lágrimas sobram para te regar Pobre barco encalhado Que não te fizeste ao largo. As cinzas são-te espalhadas em sombras Manchas negras pelos campos Outrora verdejantes Poalha que o tempo almeja reacender em chama viva Mas que a penas alastra como chaga Já sem sangue para verdejar.
A aldeia aprisionada num esotérico submundo Globo ocular à espreita da cidade exotérica É verdade abafada de mentira Extemporâneo entulho esférico Frustrâneo dióspiro Incomestível Imperceptível forma de moléstia Praga sem modéstia que não parte Nem reparte
Talvez um caminho se escreva nas pétalas da manhã Talvez um caminho se abra nas asas do arvoredo Talvez um caminho siga nos trilhos do vento cantante Talvez as águas ciciantes se lembrem de me sussurrar o caminho
Há distâncias forjadas Tão mar Habitáculos de cardos E ervas salgadas Águas em fogo Areias de gelo Pássaros calados Tão noite Tão sede Tão saudade…
Mas haverá ainda manhãs Tão mar De sítios tranquilos Radiantes De flores E perfumes. E das pedras sairão fontes Onde os pássaros feridos Se hão-de banhar.
Debaixo da ponte correm pedras Natureza morta Que mata Pousio bravo Obstáculo de tropeço e arremesso Oceano irracional Pedestal sombrio Catedral do vazio Abismo Penedos pontiagudos Pedregulhos Areias e Seixos Calhaus Correm pedras debaixo da ponte