sábado, 15 de março de 2025

Correntes



Não sei o que prende o mar
Que movimentos o encerram
Para se agitar assim
Que tormentos
Que sofrimentos tão vis
Que lhe arrancam lamentos
E o movem a dura servis

Não sei o que o tem cativo
Que enleios traz em si…

Mas há correntes que agarram o mar

sexta-feira, 14 de março de 2025

Luz e Cor


flor da romã

Uma estrela em flor
Coroa de luz e cor 
Um sol de romã
Pirilampo a piscar 
No caminho da manhã

quinta-feira, 13 de março de 2025

Por debaixo do pano

Melhor seria que a máscara que cobre a boca
a cerrasse a palavras vozeiras,
useiras e vezeiras,
ocas e interesseiras,
palermas ou arteiras;
que vêm confundir como bebedeiras
as sadias e boas maneiras.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Tão Mar



Há distâncias forjadas
Tão mar
Habitáculos de cardos
E ervas salgadas
Águas em fogo
Areias de gelo
Pássaros calados
Tão noite
Tão sede
Tão saudade…

Mas haverá ainda manhãs
Tão mar
De sítios tranquilos
Radiantes
De flores
E perfumes.
E das pedras sairão fontes
Onde os pássaros feridos
Se hão-de banhar.

terça-feira, 11 de março de 2025

Pesadelos

estuda(-)ses

Neste país
Muito se diz 
Muito se escreve
Pouco se estuda
Pouco se aprende
Pouco se conjuga
Pouco se concerta
Tudo se sabe
Tudo se dita
Tudo se debita
Pouco se acerta

segunda-feira, 10 de março de 2025

Espelhos




Há quem se olhe demoradamente ao espelho...
a imagem nele reflectida é que nem sempre corresponderá à realidade.
Umas vezes poderá ser deveras favorecida e outras precisamente o contrário...
é bom que tenhamos algum cuidado ao analisar a imagem daí resultante.

domingo, 9 de março de 2025

Vácuo

Só o vazio do espaço por contar

Nem brisa
Nem aves

Só um manto de silêncio sem dor
Nem tristeza
Nem alegria
Nem fadiga

Só a lembrança vadia sem tortura
Nem nuvem
Nem tormenta

Nem maré
Nem barca
Nem remo
Só a sede da vela ao longe por erguer

Sem praia
Sem rio
Sem fonte

Só o vácuo do vento na torneira por abrir
E fechar

(Poema publicado originalmente a 18/08/2012 no meu blogue Nuvens de Orvalho (apagado), e aqui agora readaptado)

sábado, 8 de março de 2025

Onde moram cagarros e ganhoas



Um breve olhar...
para lá do mar... perto da lua. 
Onde moram cagarros e ganhoas... 
sonhos e poemas 
esculpidos em lava 
escorridos no vento 
embrulhados em bruma 
retidos no sentimento.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Sem-fim

A roda da engrenagem não anda, 
Está emperrada. 
Rançou-se, enferrujou.
Foi o tempo, 
Pelas ruas de amargura, 
E a vida grave e pesada, 
Que a amofinaram sem dó, 
Lhe teceram urdidura. 

Não gira, 
Já nem geme 
Pelo ardor da labuta. 
Cala-se, 
E não há lágrima 
Que escorra, 
Que regue o chão.
 
Há palavras que morrem antes de chegarem à garganta, 
Sufocadas em silêncio sem-fim.

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