Escorrem poemas
Momentos de água
Deslizando em fendas
Talhadas a par e passo
Podem acordar os pássaros
Aprisionados no espelho
Soltarem-se do rio
Os doirados das nuvens
Do fundo das muralhas
Labaredas azuis
Que nas horas escuras ou leves
Imensas ou breves
Entre charcos e bordados
Palavras e pedras
Versos e pétalas
Há um espelho que nos reflecte
Talvez um caminho se escreva nas pétalas da manhã
Talvez um caminho se abra nas asas do arvoredo
Talvez um caminho siga nos trilhos do vento cantante
Talvez as águas ciciantes se lembrem de me sussurrar o caminho
E eu caminho...
Talvez o caminho se erga
Bradam ao céu espinhos
Uma floresta de dores
Por dentro da janela escancarada
Um mundo alheio a tudo
E recheado de nada
Moldura de vento silente
Murmúrio cansado e dolente
Aroma de rosas bravias
Na esquina aguda do tempo
Que passa a rasgar os dias
Há uma Primavera (in)discreta que me espreita à janela
Um cálido perfume a nascer dos raios de sol
Uma luz serena de realidade donzela
Uma sinfonia de cores breves no ar
Um convite à utopia no jardim
Um reflexo de vida nova a levitar
E um sopro de brisa mansa nascente em mim
Eu gosto e preciso disso
Simplesmente porque sim
Debaixo da ponte correm pedras
Natureza morta
Que mata
Pousio bravo
Obstáculo de tropeço e arremesso
Oceano irracional
Pedestal sombrio
Catedral do vazio
Abismo
Penedos pontiagudos
Pedregulhos
Areias e Seixos
Calhaus
Correm pedras debaixo da ponte