sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Do Fundo do Olhar


Do fundo do olhar um abismo
Espreita
Uma bolha de pão
Uma bola de ar
Asas de condor

Do fundo do olhar um ninho
Sem cor
De ave ferida
Um resto de alento
Num sopro de vida

Do fundo do olhar um rio
Submerso
Leito assombrado
De seixos vadios
Em água poluída

Do fundo do olhar um mar
À solta
Um barco sem leme
Uma onda esvaída
Numa praia deserta

Do fundo do olhar
Uma porta
Fechada

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Bola de Cristal



A aldeia aprisionada num esotérico submundo
Globo ocular à espreita da cidade exotérica
É verdade abafada de mentira
Extemporâneo entulho esférico
Frustrâneo dióspiro
Incomestível
Imperceptível forma de moléstia
Praga sem modéstia que não parte
Nem reparte

E dói o ritual
Ofício doloso
Numa bola de cristal

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

E eu caminho



Talvez um caminho se escreva nas pétalas da manhã
Talvez um caminho se abra nas asas do arvoredo
Talvez um caminho siga nos trilhos do vento cantante
Talvez as águas ciciantes se lembrem de me sussurrar o caminho

E eu caminho...

Talvez o caminho se erga

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Tão Mar



Há distâncias forjadas
Tão mar
Habitáculos de cardos
E ervas salgadas
Águas em fogo
Areias de gelo
Pássaros calados
Tão noite
Tão sede
Tão saudade…

Mas haverá ainda manhãs
Tão mar
De sítios tranquilos
Radiantes
De flores
E perfumes.
E das pedras sairão fontes
Onde os pássaros feridos
Se hão-de banhar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Musicando o horizonte

tocando o horizonte

O horizonte precisa da música das ondas
em preguiçoso espraiar
para ser tocado em escala de sol e vagar

terça-feira, 29 de julho de 2025

Correm pedras debaixo da ponte



Debaixo da ponte correm pedras
Natureza morta
Que mata
Pousio bravo
Obstáculo de tropeço e arremesso
Oceano irracional
Pedestal sombrio
Catedral do vazio
Abismo
Penedos pontiagudos
Pedregulhos
Areias e Seixos
Calhaus
Correm pedras debaixo da ponte

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Sabor a Sal

Salgado

Não se constrói uma casa pelo telhado... 
mas é, quase sempre, pelo telhado que ela se destrói.

domingo, 27 de julho de 2025

Entre Gaivotas



Tenho uma alma-gaivota que não se confina ao chão
Um coração sempre com sede de ar
Um mar nos olhos que escorre do peito
Em leito de asas feito

É entre gaivotas que a minha alma voa

quinta-feira, 13 de março de 2025

Primavera (in)discreta



Há uma Primavera (in)discreta que me espreita à janela
Um cálido perfume a nascer dos raios de sol
Uma luz serena de realidade donzela
Uma sinfonia de cores breves no ar
Um convite à utopia no jardim
Um reflexo de vida nova a levitar
E um sopro de brisa mansa nascente em mim

Eu gosto e preciso disso
Simplesmente porque sim

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