Debaixo da ponte correm pedras Natureza morta Que mata Pousio bravo Obstáculo de tropeço e arremesso Oceano irracional Pedestal sombrio Catedral do vazio Abismo Penedos pontiagudos Pedregulhos Areias e Seixos Calhaus Correm pedras debaixo da ponte
Desenho a carvão o negro da terra queimada. Nem lágrimas sobram para te regar Pobre barco encalhado Que não te fizeste ao largo. As cinzas são-te espalhadas em sombras Manchas negras pelos campos Outrora verdejantes Poalha que o tempo almeja reacender em chama viva Mas que a penas alastra como chaga Já sem sangue para verdejar.
Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração Quando se deitam em voo planado Como num sonho ou num fado Na toalha estendida Que a brisa ondeia Remanso num sopro de vida No intervalo de um pranto E um banco de areia
Porque há um barco esquecido na praia Amarrado ao lodo do tempo Que já não leva ninguém a pescar À espera da maré Ou do vento Que o faça outra vez navegar
É uma dor sem lamento Um amor ou sentimento Tormento degredo paixão A verdura desses campos Nos olhos do meu coração